Liberdade: a essência da alma

O pássaro engaiolado dentro da caixa de vidro bate suas asas num esforço inútil: jamais conseguirá sair.
Para quem olha de fora parece tão simples… Basta que uma tampa seja tirada para que o pássaro se liberte. O pássaro muitas vezes sabe a receita também, mas a tampa de vidro é pesada demais para que ele por conta própria desloque-a. Ele vê o mundo do lado de fora, compreende que esta preso porém se vê sem saída.

Muitas vezes não basta compreensão. Não basta saber que estamos presos dentro de uma caixa de vidro e assistir o mundo correndo ao nosso redor enquanto tentamos escapar de onde nos enfiamos. Nosso esforço para achar uma saída certas vezes nos esgota. É preciso que uma mão amiga nos ajude para que a gente volte a voar. Seja um amigo, um médico, um terapeuta, um companheiro ou até um estranho. Tem horas que a ajuda é tão essencial quanto o ar que respiramos.

A liberdade é algo que devemos conquistar por conta própria, mas nem sempre conseguimos. Antes de conquistarmos a liberdade por nós mesmos, várias pessoas na nossa vida contribuem para isso nos dando bons modelos de liberdade e plantando em nós palavras incentivadoras; ou também nos oferecendo conselhos negativos e depreciativos que fazem nosso âmago contestar e lutar contra a nossa auto imagem azeda, fortalecendo-nos.

A vida é cheia de mãos que tiram as tampas de vidro que nos prendem, sejam elas conscientes ou não. Compete a nós voar caixa de vidro afora para viver no mundo sem as barreiras carcerárias.

Quem sai de dentro da caixa de vidro evidentemente começa a ver o mundo melhor. Vê melhor, ouve melhor, se relaciona melhor.

Muitas pessoas se prendem em caixas para se protegerem do mundo. E sem que percebam, morrem sufocadas dentro dos próprios medos, sem nada ouvir ou nada ver.

Somos uma perfeita analogia com o pássaro preso: todos nós queremos ser livres: livres financeiramente, intelectualmente, livres de medos. Sempre há algum maldito medo que nos prende. E não basta que alguém destampe a caixa: se tivermos medo, não voaremos.

A liberdade é o nosso combustível. Ferramenta chave que faz nossa alma pulsar. É por ela que estudamos, é por ela que trabalhamos, é por ela que oramos. Queremos ter almas livres.

De nada adianta disfarçar a prisão do medo com paredes de vidro. Nossa alma não precisa ver. Ela se guia através do sentimento. Nossos sentimentos é que nos fazem voar.

Se não sentirmos a vida pulsar de verdade, se nossa alma não nos falar sobre nossa vontade de liberdade, jamais criaremos asas fortes para voo. Seremos eternos rastejantes. Mas no fundo, sempre quereremos ser aqueles capazes de voar alto, chegar perto do sol quando esta se pondo.

Nossa alma é um corpo que pulsa para nos levar aos crepúsculos mais belos. Mas nós pelos nossos medos, construímos caixas de vidro. Nada lá dentro pode nos machucar (a não ser nós mesmos…). Silenciamos nossa alma, tornamo-nos pássaros incapazes de voar.

O que as pessoas não sabem é que outras pessoas também são pássaros que constroem caixas de vidro transparentes. Vivem, cada um dentro da sua caixa se contentando com o que oferece à sua alma. Nós acabamos domesticando-nos demais… O que esquecemos é que nosso corpo pode ser domesticado, mas nossa alma jamais. Ela adormece e sua essência se mantem intacta.

E toda alma tem por natureza, na sua essência, o desejo de voar livre e respirar beleza.

Cuide para que sua alma não adormeça. Deixe que seu lado selvagem pulse sempre. Mantenha sua caixa de vidro sempre aberta. Entre nela se precisar descansar. Mas nunca tampe-a de volta…

A grande sabedoria da nossa alma é reconhecer que há uma tampa, que pode ser fechada para nossa segurança total, mas escolher mantê-la encostada ao lado para poder alçar voo assim que desejar.

Seja uma alma bruta e livre, plena na sua essência, onde as lapidações passaram apenas para fortalecer as asas!
É voando que se respira feliz…






Arquiteta por formação, hoje dedica-se integralmente a presidir o Instituto Rubem Alves, criado para manter vivo o pensamento de seu pai, difundir a sua obra e capacitar novos mestres.