Vai onde te leva a ilusão…

A maior prova de amor que te dei… foi deixar-te partir…

O meu coração esteve desde o primeiro instante de janelas abertas permitindo-te que voasses no momento em que achasses que precisavas de o fazer. Estava convicta que quando ouvisses as nuvens sussurrar o teu nome isso daria uma vontade gigantesca de percorrer o céu misterioso. Sabia que chegaria o dia em que as caravelas no alto mar te iriam acenar com as cores das aventuras estampadas nas suas velas, suplicando-te que as acompanhasses. Vislumbrava que chegaria a noite em que te deixarias seduzir pelo mágico canto das sereias e que terias o desejo de te perder na sua voz feiticeira. Tinha ainda a certeza que chegaria o momento em que ao olhares o nascer do sol, verias o rosto crestado dos Tuaregues e a voz indecifrável deles ecoaria nas tuas memórias pedindo-te para regressar e que o calor das areias do deserto convidar-te-iam a atravessá-las, perdendo-te nas dunas, mas encontrando-te a ti.

Nunca imaginaste que eu tivesse a coragem de te deixar ir, pois não? Jamais pensaste que pudesse abrir o meu peito para que te evaporasses dele, jamais se afigurou no teu pensamento que te iria desalojar de mim, que seria capaz de te afugentar da minha vida, de te apagar do meu corpo, de te fazer dissipar da minha alma. E, acima de tudo, admirou-te o facto de por nunca te pedido para ficares.

Não o fiz por não te amar, muito pelo contrário, foi em nome de tudo o que senti por ti, foi pela intensidade desse sentimento que me habitava, foi porque me corrias nas veias, que me afastei dessa tua senda, te deixei voar rumo ao desconhecido e apenas gemi baixinho num fio de voz doloroso: “ – Vai onde te leva a ilusão”.

E tu foste… e voaste… sentiste o vento arrepiante nas asas, o calor sufocante do sol nas plumas de pássaro sombrio, inalaste o aroma da imensidão do céu quando te embrenhaste no mundo à tua frente. Experimentaste assim o desapego que tanto desejavas, deambulaste por esses trilhos plenos de novidade, procurando um novo rumo para os teus dias. Mergulhaste decidido no sal de outros mares, no mel e traiçoeiro canto das sereias e fizeste-te acompanhar de pássaros tão perdidos como tu.

E eis que uma incomensurável sensação de vazio, uma dolorosa sensação de perda, se apodera de ti. Jamais tinhas imaginado que, quanto mais te afastavas para longe de mim… mais o amor que deixavas para trás te fazia sentir perto, mais o amor por mim crescia… mais se apoderava de ti a certeza que nunca deverias ter partido.
Sabes, ainda bem que foste, só descobrindo o que pensavas que estavas a perder (que valia tão pouco perto do que tínhamos), só mediante a visão de tudo aquilo que abdicaste, te foi possível desvendares que ao meu lado já possuías tudo o que querias.

Parece um contrassenso, não parece? Querias tanto ser livre, não estar preso a nada nem a ninguém que não percebeste que a maior liberdade que podias sentir estava no amor que te dava porque nunca fui um nó na tua vida, apenas me envolvi em ti num laço.
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Texto: Sandra Barbosa
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