
Tem filme de sobrevivência que usa a natureza só como pano de fundo. O Cânion (2009) escolhe outro caminho: o cenário funciona como obstáculo constante, físico e psicológico, e toda a narrativa gira em torno de decisões pequenas, muitas vezes teimosas, que empurram o casal para uma situação sem retorno.
É um thriller direto, de orçamento contido, que aposta mais no desgaste progressivo do que em grandes viradas de roteiro.
A história começa sem alarde. Nick e Lori, recém-casados, contratam um passeio guiado pelo cânion com Henry, um guia experiente e pouco afeito a concessões. O problema surge quando ele propõe um desvio para visitar petróglifos escondidos — e o casal aceita.

Leia também: A série de 65 episódios que está prendendo milhões na Netflix — e quase ninguém tinha ouvido falar
A partir daí, o roteiro de Steve Allrich constrói a tensão em cima de erros acumulados: um acidente grave, a perda dos animais de carga, falhas de orientação e decisões que parecem razoáveis demais para quem já está cansado, ferido e sob pressão.
O trio central sustenta bem esse conflito. Will Patton interpreta Henry como alguém prático e duro, sem romantização do papel de guia.
Eion Bailey e Yvonne Strahovski acompanham a degradação emocional dos personagens conforme a situação se torna extrema. Strahovski, em especial, ganha força quando o filme exige escolhas frias, pouco confortáveis e longe de qualquer idealização.
A direção de Richard Harrah evita transformar o sofrimento em espetáculo. As cenas mais duras existem, mas surgem de forma funcional, ligadas à lógica da sobrevivência e às consequências reais de cada decisão.
Parte da crítica destacou justamente esse incômodo constante, que não depende de exageros visuais para funcionar.

Visualmente, O Cânion trabalha com contenção. A fotografia de Nelson Cragg privilegia enquadramentos que reforçam isolamento, escassez e desgaste físico, enquanto a trilha sonora de Heitor Pereira aparece de maneira discreta, sustentando a tensão sem competir com a narrativa. O resultado é um filme enxuto, que se mantém focado no essencial.
Produzido nos Estados Unidos e distribuído pela Magnolia Pictures, o longa teve lançamento limitado em 2009 e encontrou público principalmente fora do circuito comercial tradicional.
Disponível no streaming Prime Video.
Leia também: Um acidente, uma família em pedaços e um pássaro improvável: o filme da Netflix que vai te desmontar por dentro
Compartilhe o post com seus amigos! 😉

