Uma estreia recente na Netflix, “Acredite em Mim”, se desenrola como uma jornada satírica do início ao fim. No entanto, seu humor seco e sutil pode facilmente escapar à percepção do espectador. Inspirado no aclamado romance homônimo de Juan Pablo Villalobos, o protagonista da história é o próprio Villalobos. Um jovem conquista uma bolsa de estudos para cursar um doutorado em Literatura em uma universidade em Barcelona, misturando as fronteiras entre as experiências reais de Villalobos e a narrativa ficcional.
Ecos reminiscentes de “Alice no País das Maravilhas” e “Dom Quixote” levam os espectadores a questionar a tênue linha entre ilusão e realidade na narrativa. Não é mera coincidência que tanto o livro quanto o filme sejam intitulados “Acredite em Mim”.
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Nascido em Guadalajara em 1973, Villalobos iniciou sua jornada de doutorado em Barcelona em 2003, mudando-se posteriormente para Campinas, no Brasil, em 2007, antes de estabelecer residência definitiva em Barcelona em 2014. Reconhecido por obras como “Festa no Covil” e aclamado como um representante da narcoliteratura, seu estilo único e extraordinário desafia a categorização.
Ao contrário das sinopses genéricas do Google sobre o livro que inspirou este filme, “Acredite em Mim” não é o tipo de comédia que arranca risadas e é esquecida facilmente. Em vez disso, adentra território cerebral, ocasionalmente deixando de lado o entretenimento. Sua trama se inclina mais para o suspense, desvendando-se lentamente em meio a eventos enigmáticos e desconcertantes.
As doses de sarcasmo são tão ácidas que raramente provocam risos. É um filme sombrio, protagonizado por um personagem taciturno e contemplativo cujo estudo gira em torno dos limites do humor na literatura – um intricado jogo que Villalobos desenvolve ao escrever seu romance, testando os limites do que é risível ou inadequado.
O infortúnio do protagonista (interpretado por Dario Yazbek Bernal) tem início quando é sequestrado em uma livraria por criminosos. No misterioso porão para onde é levado, um primo de Juan Pablo está amarrado a uma cadeira. Após eliminarem o homem imobilizado, ameaçam o protagonista e o recrutam (sem escolha) para uma missão. Ele deve ir para Barcelona com sua namorada. Na universidade, é incumbido de se aproximar de Laia (interpretada por Anna Castillo), filha de um político corrupto, e fazê-la se apaixonar por ele. Juan Pablo recebe instruções passo a passo para o plano por meio de ligações telefônicas.
Enquanto o protagonista finge levar uma vida normal, frequentando aulas e participando de discussões sobre temas como machismo e exploração indígena com colegas acadêmicos, a narrativa também acompanha a nova rotina de Valentina (interpretada por Natalia Solián). Forçada a se mudar para outro continente em um momento em que seu relacionamento com Juan Pablo não ia bem, Valentina enfrenta uma desconexão emocional. O casal havia se separado pouco antes da viagem. Coagidos pelos criminosos a reatar o relacionamento e levar Valentina para Barcelona, Juan Pablo e sua namorada se encontram emocionalmente desconectados. Valentina luta para estabelecer sua identidade e senso de pertencimento em um lugar onde é frequentemente confundida e discriminada.
Com violência eruptiva, cinematografia sombria e uma atmosfera surreal, “Acredite em Mim” se destaca como um thriller provocativo e desconcertante – uma oferta de nicho que pode não corresponder às expectativas dos espectadores que aguardam uma experiência cinematográfica mais convencional.
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Fonte: Revista Bula
