Roger Moore, eterno 007, resgata a criança interna de seus fãs

Por Octavio Caruso
Eu sou fascinado pelo personagem desde a infância, comprei os filmes em VHS, DVD, Blu-ray, li todos os livros várias vezes, tenho memorizadas as letras de todas as canções-tema, já cantei em um evento “Thunderball”, de “007 Contra a Chantagem Atômica”, em suma, você pode imaginar o impacto da notícia recente. O meu herói da infância e adolescência faleceu. Como escrever sobre algo tão pessoal? Roger Moore foi o responsável por incutir simpatia transbordante no personagem de Ian Fleming, a capacidade de não se levar a sério no papel do agente secreto 007.

Na escola, eu ficava imitando o seu jeito de dizer o clássico “Bond, James Bond”, sempre com uma longa pausa, sobrancelha arqueada, sorriso irônico no rosto, leve menear de cabeça, a atitude de um gentleman que, entre uma missão e outra, não desprezava uma boa farra com belíssimas mulheres. Connery passava a imagem do assassino frio, Moore era mais facilmente identificável por nós, jovens, atuando com licença para se divertir. Eu lembro com carinho da revista Cinemin com “007 Contra o Foguete da Morte” na capa, o passeio do personagem por um Brasil exótico. O filme não é bom, mas ele tinha o dom de, com seu carisma, tornar minimamente interessantes até as cenas mais tolas no roteiro.

Que o seu legado artístico siga entretendo as próximas gerações, que seu nobre trabalho como embaixador da UNICEF seja sempre enaltecido. Que nunca nos esqueçamos.

No dia de seu falecimento, Marc Haynes, um fã norte-americano, postou nas redes sociais um testemunho tocante que comprova a nobreza do saudoso ator.

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Roger Moore Fotografia de Kathy Hutchins – via Shutterstock

O primeiro encontro dos dois foi quando Marc tinha sete anos, no aeroporto de Nice. Ele viu Moore lendo um jornal e disse ao seu avô que aquele era o James Bond e que queria um autógrafo. “Meu avô não tinha ideia de quem era James Bond ou Roger Moore, então, nós fomos até lá e ele apareceu na frente de Roger Moore dizendo: “Meu neto falou que você é famoso. Você pode assinar isso?”, então, o ator deu um autógrafo na parte de trás do cartão de embarque da criança. Charmoso como sempre, ele preencheu o papel carinhosamente com mensagens bonitas. Mas havia um problema, ao ler a assinatura, o menino ficou muito triste, pois não dizia James Bond, ele não fazia ideia de quem era aquele tal Roger Moore. “Eu disse ao meu avô que ele tinha assinado errado, tinha colocado o nome de outra pessoa – então, meu avô voltou até Roger Moore, segurando o Ticket que ele tinha acabado de assinar. “Ele disse que você assinou o nome errado. Ele disse que seu nome é James Bond.”

A face do ator se iluminou, ele chamou o menino, olhou teatralmente ao redor, abaixou a voz e disse a ele: “Eu tenho que assinar meu nome como Roger Morre, se não, Blofeld pode descobrir que eu estou aqui”, em referência ao vilão do agente secreto. Minutos depois, quando o avô perguntou a ele se James Bond tinha dado seu autógrafo, Marc corou e disse que havia entendido errado. Ele agora era importante, ele havia ajudado 007, os dois trabalharam juntos na missão.

“Muitos anos depois, eu estava trabalhando como roteirista em uma gravação envolvendo a UNICEF, e Roger Moore estava filmando um trecho como embaixador”, relembra. Então, o rapaz foi contar a ele sua história de criança. O ator sorriu confuso, disse que não se lembrava dessa situação, mas que ficava muito feliz pelo menino ter conhecido James Bond. Na cabeça de Marc, aquela resposta já era adorável, mas ele não suspeitava que o ator guardava uma carta na manga. Minutos depois, quando os dois estavam sozinhos no ambiente, Moore se aproximou teatralmente e disse: “Claro que lembro do nosso encontro em Nice. Mas eu não disse nada lá dentro por causa dos operadores das câmeras – qualquer um deles poderia estar trabalhando para Blofeld”. Marc diz na mensagem: “Eu fiquei tão feliz aos 30 quanto aos 7. Que homem. Que tremendo homem.”






Escritor, crítico de cinema, ator, roteirista e cineasta, membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) e da FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema).