Os vivos e o morto

Por Luiz Antonio Simas

No gramado de Chapecó estarão hoje os corpos dos garotos que transcenderam a miserabilidade da existência para viver na memória coletiva de uma cidade.

A Arena Condá, daqui pra frente, cada vez que alguém chutar uma bola em campo ou tremular uma bandeira na arquibancada, será terreiro de evocação ao mistério maior dos ancestrais: eles continuam vivos depois da vida, como modelos de conduta e totens de coesão do grupo: a torcida e a cidade de Chapecó lembrarão dos seus nomes.

O verdadeiro cadáver em decomposição, aquele aniquilado pelo implacável apequenamento, até sucumbir à morte incontornável do esquecimento no tempo, estará hoje de terno e gravata no aeroporto da cidade e não merece citação. É apenas o morto.

Choremos, mas com o vigor das grandes celebrações aos que continuarão jogando bola no espaço insondável que os olhos não podem alcançar; aquele onde construimos nossas maneiras de suportar a vida. Os jornalistas que se foram narrarão a partida que não terá fim.

O poeta, afinal, já ensinou num samba feito oriki de orixá que a vida não é só isso que se vê.

Os guerreiros do Espírito Condá viverão em cada noite grande em que alguém contar às crianças, ao redor de fogueiras imaginárias feito as que ardiam aquecendo as mulheres e os homens na aurora dos tempos, as suas façanhas no coração da América do Sul.
Valeu, Chape!






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