
Se você abriu a Netflix atrás de algo diferente do catálogo habitual de ação e “filminho de domingo”, pare em Casa de Areia (2005).
O longa de Andrucha Waddington aposta na força de Fernanda Montenegro — ao lado da filha Fernanda Torres — para contar uma história de isolamento físico e emocional em meio às dunas brancas dos Lençóis Maranhenses.

Enredo sem pressa, mas cheio de impacto
O roteiro começa em 1910: Vasco (Ruy Guerra) arrasta a esposa grávida, Áurea (Torres), e a sogra, Dona Maria (Montenegro), para um pedaço de terra que ele jura ser fértil. O cenário é um deserto de areia que engole tudo ao redor.
Quando um acidente trágico elimina o “chefe” da família, as duas mulheres ficam presas ali sem acesso fácil ao mundo exterior. A linha do tempo avança — anos 1940, depois 1969 — mostrando as tentativas de fuga, a criação de uma filha em solo hostil e a forma como o lugar muda (ou congela) quem vive nele.

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Duas Fernandas, três fases de vida
Um dos truques narrativos é a troca de papéis: na primeira parte, Fernanda Torres vive Áurea; no bloco seguinte, quem assume a personagem envelhecida é Fernanda Montenegro. Torres reaparece como a neta, enquanto Montenegro interpreta a mãe no início.
A escolha cria espelhamentos sutis sobre a passagem de tempo e reforça a ideia de destino que se repete. As duas atrizes entregam atuações contidas, cheias de microexpressões — basta um olhar para sentir o peso dos anos acumulados naquelas dunas.
Fotografia que vale por diálogo
O diretor de fotografia Ricardo Della Rosa usa enquadramentos abertos para evidenciar a pequenez humana frente à paisagem ondulante.
Nada de trilha bombástica; o som do vento e o estalo da madeira das cabanas dominam a mixagem, dando sensação de eternidade e solidão palpável.
Quando a cor muda com a luz do fim da tarde, a tela vira quase pintura, reforçando a beleza árida que mantém Áurea e Maria reféns.

Isolamento geográfico vira metáfora de outras prisões: estruturas de poder, limitações sociais para mulheres do início do século XX, e até o ciclo de esperança frustrada que atravessa gerações.
O filme também brinca com ciência: em 1969, a chegada de pesquisadores da NASA à região sugere que a paisagem lembra solo lunar, conectando aquele ponto esquecido ao evento histórico da corrida espacial.
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