Não aceite como definitivo nada que seja contrário à sua essência

Por Nara Rúbia Ribeiro
Ao longo da vida, fazemos muitas coisas que nos agridem por dentro. Estudamos conteúdos que detestamos: enquanto poderíamos nos dedicar àquilo que amamos; aceitamos empregos que nos escravizam e matam as coisas mais belas que trazemos na alma; toleramos a presença de quem nos maltrata ou cujos modos, em geral, nos ferem profundamente.

Em suma, cada um recebe, não raro, sapatos menores que os próprios pés, o que me lembra uma famosa música “Sapato 36”, do genial Raul Seixas: “Eu calço é 37/ Meu pai me dá 36”.

Contudo, receber aquilo que não nos cabe é algo natural. O que nos avilta a existência não é receber, mas acomodarmo-nos ao que não nos cabe. Fazer como afirma Raul na música acima mencionada: “Dói, mas no dia seguinte/ Aperto meu pé outra vez/Eu aperto meu pé outra vez.”

É fácil chegar aqui e dizer que você deve fazer uma imediata e profunda mudança em sua vida. Que deve deixar de lado os “sapatos apertados” que a vida entregou a você. Que deve libertar-se, emancipar-se, mudar de emprego, de casa, não mais tolerar as algemas da sua religião. É fácil dizer isso, pois eu nunca calcei os seus sapatos. Não sei o quão pedregoso é o seu caminho e tampouco saberia dizer se você pode prover sapatos novos que lhe caibam.

O que posso dizer é: não aceite como definitivo nada que seja dissonante da sua essência. Gradativamente, no seu próprio tempo, em seu ritmo, experimente descalçar-se do sapato que o machuca. Experimente pensar diferente, experimente um novo caminho, experimente conhecer novas realidades, novas verdades, novas alegrias.

A vida é uma dádiva, não uma condenação. Que possamos olhar para essas limitações, para essas fronteiras criadas por outros que nos afastam do nosso verdadeiro eu e dizer: “Por que cargas d’águas/ Você acha que tem o direito/ De afogar tudo aquilo que eu/ Sinto em meu peito.”

Que estejamos, a cada dia, mais próximos do que intimamente somos, pois, quando nos distanciamos de nós mesmos, todas as coisas que vivenciamos perderão o sentido. Que a música do Raul nos embale nessa belíssima dança da existência.

Pazes a todos!

(Abaixo, a música “SAPATO 36”, de Raul SeixAs – OUÇA E INSPIRE-SE!)






Nara Rúbia Ribeiro - advogada especialista em Regularização de Imóveis, pós-graduanda e Direito Imobiliário. Atua em Goiânia - Goiás. É também editora-chefe da Revista Pazes.