Mia Couto fala sobre um professor que marcou a sua vida

Trouxemos aqui um trecho de uma entrevista concedida por Mia Couto à revista Nova Escola, em que o escritor discorre sobre sua experiência escolar, sobre educação e sobre um professor que marcou a sua vida:

Nova Escola: Como foi sua experiência escolar?
MIA COUTO Eu era um aluno sofrível, eu tirava a nota que bastava para passar. A escola não me seduzia, não me encantava. O que eu aprendi nela foi que faz falta esse lugar de sedução. A escola, para mim, era um lugar onde eu aprendia a não estar onde eu estava. Era uma espécie de exercício de exílio. Eu ficava junto a uma janela para ver o mundo e a vida, porque me parecia que a escola era muito cinzenta e pouco divertida.

Nova Escola:E a escola pode ser um lugar com mais sedução?
MIA COUTO Acho que hoje ela já é diferente. Quando entrei na escola, por volta de 1961, 1962, era uma obrigação, um lugar muito obscuro, cinzento e cheio de normas. Hoje eu vejo que meus filhos e netos têm um grande prazer em ir para a escola. E eu tinha prazer em não ir (risos). Essa coisa simples de desenhar não é só entretenimento e lazer. É algo que precisa ser profundamente instigado e acolhido porque o desenho é uma linguagem em que a criança diz o que está dentro dela e toma conta do mundo.

Nova Escola: Em algum momento, a escola seduziu você?
MIA COUTO Eu sempre conto essa mesma história. Foi de um professor que não deu uma aula, e sim uma lição – que é uma coisa diferente. Ele nos mandou fazer uma redação que seria apresentada à turma. No dia seguinte, como se fosse um aluno, ele trouxe um caderno e sentou-se em uma das nossas cadeiras. Ele era um homem enorme, muito grande. Ficou ali todo desajeitado. Converteu-se num menino, como nós, numa criança – e com as mãos tremendo, leu a redação que tinha feito em casa, à noite, como se fosse um de nós. O texto dele chamava-se As Mãos da Minha Mãe. E as mãos da mãe dele também eram as mãos da minha mãe: ele falava de mãos marcadas pelo trabalho, pelo sofrimento, pela vida e como ele gostava daquelas mãos marcadas. Eu tinha talvez uns 9 ou 10 anos, mas nunca me esqueci disso. Esse foi o momento em que eu pensei que a escola fazia algum sentido.

Para ler a entrevista completa, acesse Nova Escola






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