“Fresta”, poema de Lúcia Helena Galvão

Querida fresta que abri entre dois mundos,
de pouca largura,
discreta, modesta,
mas fresta…

Amo olhar através de ti
e vislumbrar outras perspectivas…
E só confio quando vejo em ti
e certifico que ainda estou viva.

Seja lá o que for que ainda tenha
ou que perdi,
ninguém me tira o alcance, o poder
de ver de novo através de ti.

Só mesmo em ti é que a dor se ilumina
e até me ensina e me esclarece..
Só com tua luz, a cicatriz não entristece,
e é tão divina…

Só mesmo em ti, tudo que sou, tudo o que fiz
revela um porte tão mais digno, grandioso,
e o meu sonho, ainda que gere pouca obra,
para a visão da minha alma, alcança e sobra.

Talvez não seja mais que isso o que fica,
quando chegar o próximo ou distante fim:
A fresta que abri para que a alma veja,
que mostra e areja algo de Deus que vejo em mim.

Lúcia Helena Galvão






É membro da organização filosófica Nova Acrópole, instituição que se dedica ao ensino de filosofia de forma prática e vivencial há mais de 50 anos e em diversos países. Seus poemas nascem destes ensinamentos recebidos e assimilados ao longo dos anos.