“Aquilo que mais desejamos é o que, muitas vezes, nos destrói”(conto budista)

Havia num monastério um monge muito querido que era o líder espiritual com muitos seguidores. Entre esses seguidores, um jovem se destacava e era com ele que o líder espiritual mais conversava. Eles caminhavam juntos, meditavam juntos. Era como se esse jovem fosse o seu escolhido, um pupilo.

Alguns anos depois, o líder espiritual desse monastério veio a falecer, deixando um vácuo na liderança desses jovens monges, sedentos por novas lições luminosas. Após as merecidas homenagens ao velho e querido monge que havia partido, iniciou-se um processo sucessório. Não houve contendas, pois todos acreditavam que o jovem monge, que caminhava e meditava mais constantemente com o mestre, era naturalmente o indicado para ocupar o seu lugar. Contudo, quando foi consultado sobre a proposta, esse jovem monge se absteve e disse não se sentir preparado para substituir o seu mestre em tão alta missão. Depois de sua negativa, os demais monges acreditaram, então, que aqueles mais velhos e que estavam há mais tempo no monastério seriam os indicados para substituir o mestre. Estes, porém, também se disseram incapazes de assumir o lugar do mestre. Todavia, para resolver a problemática propuseram um teste e aquele que passasse nesse teste demonstraria sua maturidade e sabedoria e seria, portanto, o novo líder espiritual do grupo.

Todos os monges foram colocados em uma ampla sala formando um círculo e no meio desse círculo foi colocado um vaso de porcelana chinesa, belíssimo e muito raro, Depois disso, um dos monges mais velho afirmou:

– Temos aqui um problema, aquele que resolvê-lo será o nosso novo líder.

Todos os monges começaram a olhar aquele belíssimo vaso em busca do problema. Horas e horas se passaram e ficaram a se perguntar: como um vaso tão lindo pode ser um problema? Seria a pintura? Não havia falha, nem sequer podia perceber algum arranhão. Então, após várias horas, um dos jovens monges, que estava observando o vaso, levantou-se e pegou um pedaço de pau, foi em direção ao vaso e fez o que ninguém esperava: espatifou o vaso em vários pedaços e, então, disse:

– Pronto, acabou-se o nosso problema.

Todos ficaram calados e ao mesmo tempo estupefatos com a atitude daquele monge. Como ousara quebrar um vaso tão lindo, tão perfeito?

O monge mais velho que havia proposto o teste, por sua vez disse:

– esse é o nosso novo líder espiritual.

– Como, por quê?! o burburinho tomou conta.

– todos vocês – explicou o monge – ficaram paralisados ante a extraordinária beleza do vaso. Não viam problema, falhas, defeitos, e por isso limitaram-se apenas a admirá-lo. Assim são os maiores problemas de nossa vida. Existem coisas e pessoas na vida que nos chamam tanto a atenção que nos hipnotizam com sua beleza e nos paralisam. Aquilo que mais desejamos é o que, muitas vezes, nos destrói. Ao quebrar o vaso, nosso jovem amigo nos libertou do cativeiro da ilusão. Encontrar toda aquela beleza ou inteligência ou bondade ou luz em nós mesmos é única forma de vencer a ilusão.

Esse conto lembra uma conhecida assertiva de Jesus: “Vois sois deuses, fazei brilhar a vossa luz”.

Retirado do livro: As 5 faces do Perdão.
Rossandro Klinjey

Via Espaço Hammed






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