![book-419589_1280 “Amei-te sem saberes”: magnífico poema de Mia Couto](https://www.revistapazes.com/content/uploads/2020/06/book-419589_1280-696x504.jpg)
Amei-te sem saberes
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
– Mia Couto, em “Raiz de Orvalho e outros poemas”. Lisboa: Editorial Caminho, 1999.