Acaba de chegar ao streaming o filme mais premiado do ano: 4 Oscars e cenas de tirar o fôlego

Em “Pobres Criaturas”, Yorgos Lanthimos esmiúça poder e desejo com precisão cirúrgica. A narrativa acompanha Gloria, adulta recém-introduzida ao mundo sob tutela de um médico que regula horários, vocabulário e limites — um arranjo que ele chama de cuidado, mas opera como controle.

À volta dela surgem dois vetores de influência: o aprendiz, que oferece estabilidade desde que as regras sejam dele, e o advogado, que promete novidade enquanto mede afeto pelo saldo bancário.

Quando Gloria percebe que o vocabulário disponível filtra desejos e corta experiências, decide sair da casa-laboratório e testar a própria vontade.

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A viagem com o advogado expõe a matemática social fora do abrigo: em navios e hotéis, quem paga dita a regra; quando o dinheiro some, evaporam cortesia e proteção. Sem melodrama, o filme liga causa e efeito — dependência econômica desmonta o romance e força escolhas concretas.

Trabalhar em um bordel vira resposta prática para teto e renda. Ali, Gloria negocia condições, recusa exigências que ferem seus termos e aprende o preço de cada acordo. É economia aplicada ao corpo: a gerente cobra números, clientes barganham silêncio, colegas disputam espaço.

A linguagem, antes titubeante, vira ferramenta: ela passa de reagir a formular perguntas no mesmo tom das autoridades masculinas, desmontando manobras com clareza.

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A forma reforça o conteúdo. A casa fechada comprime o quadro; a cidade abre profundidade e multiplica informação ao alcance da personagem. A passagem do preto-e-branco para cores saturadas coincide com decisões em que Gloria define a própria regra.

A montagem acelera no deslumbramento inicial e alonga negociações quando o cálculo importa. O som orienta leitura: ruídos de salão marcam hierarquia nas conversas tensas; silêncios destacam respiração quando o passado pressiona.

Os homens ao redor não ganham absolvição automática. O médico precisa encarar que proteger também foi mandar. O aprendiz só permanece porque muda conduta e aprende a ouvir. O advogado revela parasitismo quando perde recursos. Quando Gloria calcula errado, o filme não mascara a fatura: há consequência, e é isso que sustenta o arco.

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O paralelo com “A Favorita” ajuda a entender o mecanismo dramático. Lá, o tabuleiro é a corte; aqui, instituições modernas — sala de cirurgia, balcão de hotel, escritório de advocacia, casa de prostituição.

Em ambos os casos, quem controla recursos e linguagem define circulação, fala por último e cobra preço por cada gesto público. No fim, o que se vê é autonomia conquistada e mantida no cotidiano — não um presente, mas um trabalho contínuo.

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Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.