
A noite de aniversário que deveria render fotos e mensagens virou registro policial, suturas e um calendário de cirurgias. A médica Samira Khouri, 27, decidiu contar como sobreviveu à agressão que sofreu em 14 de julho de 2025, em São Paulo, e o que mudou desde então.
O relato ajuda a reconstruir a dinâmica do crime, o histórico do relacionamento e o andamento do caso que levou à prisão do então namorado, o fisiculturista Pedro Camilo Garcia Castro, 24, detido em Santos.

Um mês após o ataque, Samira convive com paralisia do lado esquerdo do rosto, perda de cerca de 50% da visão no olho mais afetado e limitações para caminhar — a mãe tem sido apoio constante.
Fraturas extensas no crânio e na face exigiram placas de titânio para estabilizar ossos, inclusive nas estruturas que sustentam o globo ocular. O nariz também quebrou em múltiplos pontos. Ela está afastada do trabalho e da pós-graduação; novas intervenções cirúrgicas estão previstas.
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Como a noite começou
Samira e Pedro moravam em Santos, mas decidiram comemorar o aniversário dela em São Paulo. Alugaram um apartamento em Moema e, nas redes sociais, ele publicou a homenagem típica de casal.
Foram a uma balada; ao perceber que o local tinha público majoritariamente LGBTQIA+, Samira socializou com três rapazes — dois em relacionamento e um amigo. O clima azedou quando Pedro demonstrou ciúme e se exaltou; seguranças o retiraram do lugar.
Samira voltou sozinha ao apartamento por volta das 3h46. Pedro chegou às 4h23, transtornado, segundo ela. A primeira agressão veio em forma de soco; ela caiu e perdeu os sentidos.
As investigações apontam cerca de seis minutos de espancamento. Samira relata que retomou a consciência enquanto ainda apanhava e chegou a fingir desmaio para tentar sobreviver. Ela descreve dor intensa ao ser golpeada no rosto repetidas vezes.

O que as câmeras e a polícia registraram
Imagens de segurança mostram Pedro saindo às 4h29, segurando a mão direita — fraturada, provavelmente pela violência dos socos.
Ele levou o celular de Samira. Vizinhos ouviram gritos e tentaram contato pelo interfone; sem resposta, acionaram a polícia. A equipe encontrou a vítima com lesões graves e a levou ao hospital, onde foi internada na UTI por 12 dias.
Pedro foi preso em flagrante em Santos, no carro de Samira, e encaminhado a atendimento médico por conta da fratura na mão. Em audiência de custódia, o juiz converteu a prisão em preventiva, citando “violência exacerbada” e “brutalidade incomum”.
O investigado respondeu que fazia uso de remédios controlados e anabolizantes, além de ter diagnóstico de bulimia e depressão. A defesa afirma lamentar as agressões e vai recorrer ao STJ. O Ministério Público o denuncia por tentativa de feminicídio.

A visão da acusação
Para a advogada Gabriela Mansur, que representa Samira, há provas de materialidade e um ponto que agrava o caso: após a agressão, o autor teria se evadido sem buscar socorro, o que reforça a intenção homicida.
A delegada Débora Lázaro classificou a cena como de ferimentos extensos e de alto impacto. Esses elementos, somados à dinâmica de violência focada no rosto, constam na narrativa acusatória.
Pesquisas sobre violência praticada por parceiros apontam que o rosto é frequentemente o foco dos ataques — parte do corpo que carrega identidade, expressão e voz.
Quando a ofensa mira essa região, especialistas interpretam como tentativa de apagar ou marcar a vítima, perpetuando o trauma no espelho e no convívio social. Samira diz se perguntar se havia a intenção de deixá-la deformada e por que os golpes se concentraram ali.

O histórico de controle e ciúmes
O relacionamento, que durou quase dois anos, tinha sinais que hoje soam mais altos.
Samira relata ciúme excessivo, explosões de raiva dirigidas a objetos (carro, paredes) e controle sobre suas comunicações: o namorado tinha a senha do celular e chegou a cadastrar o reconhecimento facial no aparelho dela.
A mãe, Fabiana Mendes, descreve Pedro como possessivo e machista, com falas de que “mulher dele não trabalhava”; ela reforça a trajetória acadêmica e profissional da filha.
As versões registradas
Durante a custódia, Pedro mencionou dor intensa no braço fraturado e sintomas de ansiedade e pânico, dizendo sentir-se “muito mal”.
Já Samira reconstrói lembranças aos poucos, a partir da internação e dos primeiros dias fora da UTI. Ela pretende cobrir tatuagens com o nome do ex e fala do impacto emocional permanente do ataque.
Além da reabilitação física, Samira quer que o réu responda pelo que ocorreu e não tenha oportunidade de cumprir a ameaça até o fim.
Diz que, toda vez que se olha no espelho, revive a noite de 14 de julho. E que o objetivo agora é seguir viva — no sentido literal e no simbólico — enquanto a Justiça decide o caso.
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