
Nem todo filme que impacta logo de cara vira assunto eterno. Alguns títulos, mesmo sendo tecnicamente impecáveis e narrativamente potentes, acabam soterrados por modismos, blockbusters e algoritmos de recomendação que priorizam mais do mesmo.
Mas quem gosta de cinema sabe: há verdadeiros acertos que ficaram de fora do radar popular — e redescobri-los pode ser surpreendente. A lista abaixo reúne cinco produções que foram deixadas de lado, mas ainda hoje oferecem experiências intensas, provocadoras ou absurdamente bem feitas.
1. “O Espelho” (1975), de Andrei Tarkovski

Neste filme, Tarkovski não entrega uma narrativa convencional. O que se vê é um quebra-cabeça de memórias, sonhos e sensações soltas. É como se ele quisesse traduzir o pensamento humano, que salta de uma lembrança à outra sem lógica aparente. Entre cenas da Segunda Guerra Mundial e momentos íntimos da infância de um narrador sem nome, o diretor mistura poesia, fotografia impactante e fragmentos históricos reais. É um filme exigente, mas que recompensa quem se entrega ao ritmo.
2. “Túmulo dos Vagalumes” (1988), de Isao Takahata

Muito diferente do tom leve que se associa ao Studio Ghibli, este longa-metragem de animação mergulha na devastação emocional da guerra. Acompanhamos dois irmãos tentando sobreviver após um bombardeio no Japão — e o desenho, longe de suavizar a realidade, torna tudo mais cruel. Sem apelos fáceis e longe do sentimentalismo forçado, o filme mostra como o sofrimento infantil durante um conflito armado é algo que a ficção raramente tem coragem de retratar com tanta honestidade.
3. “O Homem Que Dorme” (1974), de Bernard Queysanne e Georges Perec
Baseado em um texto de Georges Perec, o filme é narrado inteiramente em voz off, como se fosse uma carta destinada ao próprio protagonista, que vive isolado do mundo. Sem trilha sonora tradicional e com planos longos que evitam qualquer dinamismo forçado, a produção mergulha no tédio, na apatia e na sensação de ausência. É uma experiência quase hipnótica, mais próxima de um experimento sensorial do que de uma narrativa clássica — e talvez por isso tenha sido engavetada por tanto tempo.
4. “A Última Sessão de Cinema” (1971), de Peter Bogdanovich
Mais do que um retrato do fim de uma era, o longa de Bogdanovich capta o esvaziamento emocional de uma cidade interiorana do Texas nos anos 1950. Filmado em preto e branco mesmo numa época já dominada pela cor, o visual reforça o tom melancólico e direto da história. O cinema local está prestes a fechar as portas, e com ele também se apagam os vínculos de afeto entre os moradores. O elenco jovem, que inclui Jeff Bridges e Cybill Shepherd, entrega atuações cruas e sem floreios, no tom exato do que a narrativa propõe.
5. “Ninguém Pode Saber” (2004), de Hirokazu Kore-eda
Inspirado em um caso real ocorrido em Tóquio, o filme acompanha quatro irmãos abandonados pela mãe, que passam a viver sozinhos num pequeno apartamento, escondidos da vizinhança. A direção de Kore-eda evita dramatizações óbvias: os acontecimentos se acumulam de forma silenciosa, com longas cenas do cotidiano das crianças. O peso da situação vem devagar, na repetição dos gestos, na precariedade crescente e na maturidade forçada que se impõe sobre os mais velhos. É um drama delicado e desconcertante — e, por algum motivo, pouco falado até hoje.
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