Família

Solidão: Um inimigo oculto na velhice

“A solidão é o “assassino invisível” do idoso, que ameaça a saúde, tanto quanto a obesidade ou o tabagismo. O alerta é de uma campanha – Campaign to EndLoneliness – organizada por ONGs britânicas, que alegam que o custo emocional da solidão pode ser conhecido, mas os danos físicos provocados por ela têm sido negligenciados”. Essa é a reportagem da redação Bonde, publicada recentemente.

Será que é possível avaliar o custo emocional da solidão como conhecido? Eu diria que não, não há como medi-lo, quantifica-lo. A solidão, este inimigo oculto de todos os dias e de todos nós, pode ser devastador para o ser humano em qualquer fase da vida, mas na velhice trabalha silenciosamente, toma proporções assustadoras e seus resultados são, muitas vezes, imprevisíveis.

É aquele que trabalha na calada da noite ou num dia inteiro que se anuncia.
O problema é grave na medida que a depressão encontra neste ser fragilizado um habitat perfeito para se acomodar. Deste quadro aparentemente controlável, caminham lado a lado os problemas alimentares, o sono irregular, a falta de perspectiva, pouco ou nenhum convívio social até que o silêncio chega, permanecendo apenas aquela voz interna que não ecoa mais, não encontra palavras nem mesmo para dizer: preciso de ajuda, preciso de um sentido para a minha vida, preciso que me orçam.

Os responsáveis pela campanha – Age UK Oxfordshire, Counsel and Care, Independent Age e WRVS – afirmam que “um em cada dez idosos britânicos sofre de solidão intensa, o que conduz a um risco aumentado de depressão, que favorece o desenvolvimento de maus hábitos alimentares e de práticas sedentárias, que excluem a atividade física do cotidiano. A falta de interação social aumenta as chances do idoso de sofrer com doenças degenerativas, como o Alzheimer.”

A reportagem explica que “o maior objetivo dos organizadores é sensibilizar os profissionais de saúde para a relação entre saúde precária e solidão na terceira idade. Por meio da divulgação de uma pesquisa, as entidades chamam atenção para uma conscientização social sobre o “horror da solidão” e seu “impacto pernicioso” sobre as pessoas mais velhas”.

Mas este talvez seja um trabalho muito mais profundo do que se possa imaginar, não se trata de um ponto, mas vários e com interligações complexas. A solidão não aparece de repente na vida de ninguém, penso nela como o processo de uma vida, como o cultivo de uma plantação, como as relações que estabelecemos e alimentamos, adequadamente ou não, numa jornada cujos autores somos nós, frágeis protagonistas que têm o dever de dirigir e atuar na história.

Um estudo de ONGs realizado com 2.200 pessoas mostraram que “apenas uma em cada cinco tinha ciência que a solidão é um fator de risco para a saúde”. A pesquisa cita o aumento da solidão de idosos no Reino Unido, mas este efeito invade todos os países da Europa, é mundial, não há mais como negar: a população está envelhecendo. Com isso aumenta “o número de idosos morando sozinhos (mais da metade das pessoas com mais de 75 anos de idade vive sozinha) e, em parte, devido à dispersão das famílias”.

Será justo responsabilizar a família? Segundo Cynthia A. Sarti (2001), antropóloga e professora do Centro de Estudos em Saúde Coletiva da UNIFESP/EPM e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem desta Universidade, atribuímos um peso excessivo aos familiares, porque pensamos de acordo com um padrão socialmente instituído que respeita uma divisão interna de papéis.

Pensar que a Organização Mundial da Saúde já classifica a solidão como um fator de risco para a saúde maior que o tabagismo e tão grande quanto a obesidade nos faz refletir: o que estamos fazendo com a nossa própria vida que vai envelhecer? Sarti (2001) argumenta que estes idosos precisam “ser ouvidos. Isto implica pensar os idosos como sujeitos não apenas de direitos, mas também de desejo.”

Dentre os diversos riscos da solidão na velhice, a médica Renata Diniz, que dirige a VR MedCare, empresa especializada em cuidados médicos na terceira idade, alerta:

– Além dos custos sociais e econômicos, precisamos considerar as implicações emocionais e psicológicas de um número crescente de pessoas mais velhas, no Brasil e no mundo. Este é o aspecto mais interessante da campanha britânica. Não podemos ficar alheios ao tema.

– A depressão é frequentemente uma doença crônica, com episódios de recorrência e de melhoria. Cerca de um terço dos pacientes com um único episódio de depressão apresentará outro episódio dentro de um ano, após a descontinuação do tratamento. E mais da metade terá uma recorrência em algum momento de suas vidas. Até o momento, mesmo antidepressivos mais modernos não conseguiram alcançar a remissão permanente na maioria dos pacientes com depressão profunda, embora a medicação padrão seja muito eficaz no tratamento e na prevenção dos episódios agudos da doença.

– Preocupações suicidas ou ameaças de suicídio entre idosos devem sempre ser tratados com seriedade.
A depressão profunda em idosos representa uma ameaça a vida, leva o indivíduo a falta de convívio social e ao isolamento. A associação deste quadro a outras doenças se transforma em terreno fértil para o surgimento de diversas enfermidades que acometem os idosos. Podemos citar, apenas, algumas delas: doenças cardíacas, aumento da sensação de dor e câncer.

Revista Pazes

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