“As possibilidades perdidas”, texto original de Martha Medeiros

Fiquei sabendo que um poeta mineiro que eu não conhecia, chamado Emilio Moura, teria completado 100 anos neste mês de agosto, caso vivo fosse. Era amigo de outro grande poeta, Drummond. Chegaram a mim alguns versos dele, e um em especial me chamou a atenção: “Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive”.

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.

Revista Pazes

Uma revista a todos aqueles que acreditam que a verdadeira paz é plural. Àqueles que desejam Pazes!

Recent Posts

Crush + sofá + Netflix: 5 comédias românticas natalinas pra criar clima hoje

Nem todo date precisa de bar lotado: às vezes, a melhor química aparece quando vocês…

1 dia ago

O algoritmo ajudou? Este filme disparou, bateu 29 milhões de views e virou líder na Netflix

Se você abriu a Netflix nos últimos dias e viu um “troll” te encarando na…

1 dia ago

Vimos antes da estreia: o filme mais aguardado de 2025 chega à Netflix e entrega muito mais do que promete

Tem suspense que te prende pela charada. E tem suspense que te pega pelo clima:…

1 dia ago

5 filmes recomendados por um psicanalista que vão explodir a sua mente

Tem filme que dá susto, tem filme que dá vontade de pausar pra respirar… e…

2 dias ago

Um passeio guiado sai do controle e deixa um casal preso em um cânion lutando para sobreviver neste filme nº 1 do streaming

Tem filme de sobrevivência que usa a natureza só como pano de fundo. O Cânion…

2 dias ago

O que acontece quando cientistas brincam de Deus? A resposta está neste suspense incrível da Netflix

Tem gente que entra em pânico quando o celular cai pra 1%. Oxygen pega essa…

2 dias ago