O mundo coloca à sua margem aquilo que não tem valor de mercado. O lixo. O que é imprestável, inaproveitável. O que não merece apreço porque ninguém pagaria um preço qualquer por ele. Foi isso que me veio à memória quando vi, no G1, a notícia de que um homem fora encontrado dentro de um saco de lixo, pelas calçadas de Jundiaí – SP.
A terapeuta que o recebeu logo após o resgate, Melina Nucci, disse que: “Como se fosse uma embalagem vazia, ele estava dentro de um saco de lixo”.
Na publicação, a terapeuta ocupacional falou sobre o impacto que essa cena trouxe ao seu emocional, bem como contou sobre como se sentiu ao receber esse homem no abrigo:
Em entrevista ao G1, a terapeuta afirmou:
“Ele estava molhado e muito debilitado. Ele tem uma família, tem filhos. Eu escrevi o texto porque fiquei olhando para ele e pensei que podia ser meu pai. Esses filhos não devem nem imaginar que o pai deles foi encontrado assim. A família mora em Osasco e ele não sabia que não estava lá, estava muito confuso. Eu fico sem conseguir definir se ele estava nessa situação pelo frio e fome, então falei para ele ficar quentinho e ficar na casa de passagem no fim de semana”, explica.
“[A cena] foi muito forte, foi um impacto muito grande. A gente estava refletindo sobre isso, muitos deles trazem a bagagem em sacos de lixo e tudo que eles tem está lá, como se a vida coubesse dentro de um saco de lixo. Eu fiquei tão triste vendo ele ali”, conta.
Fiquei imaginando se não é mesmo assim, como se fosse “uma embalagem vazia”, que olhamos as pessoas em situação de rua, em extrema vulnerabilidade social, quando com elas cruzamos ao longo da vida. E imaginei que talvez de tanto serem olhados assim, muitos humanos se sintam desprovidos de preenchimento interior. Já não tenham esperanças, já não tenham sonhos, já não tenham metas. Se vejam, de fato, como embalagens vazias.
O senhor encontrado no saco de lixo foi levado a um abrigo e, no dia seguinte, foi embora sem deixar rastro. Talvez pense que o cuidado que tiveram para com o nada que ele sente que é seja desmerecido, talvez descabido… Um desperdício de tempo de seres de uma espécie à qual ele já não se julga pertencente: a humana…
Quem porventura o encontrar, ou encontrar qualquer pessoa em situação de rua em aviltante vulnerabilidade, pode ligar para o número 153.
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