Tem filme sobre maternidade que vem embalado em clichê, e tem A Melhor Mãe do Mundo.
Desde que chegou aos cinemas e, depois, entrou no catálogo da Netflix, o longa de Anna Muylaert passou a aparecer com frequência em posts de artistas, críticos e influenciadores que saíram da sessão falando em “filme mais triste que já vi” e “obra essencial para entender o Brasil de hoje”.
Não é exagero: a história aperta o peito, mas faz isso com pé firme na realidade de quem vive na margem.
O filme acompanha Gal (Shirley Cruz), catadora de recicláveis em São Paulo, mãe de Rihanna e Benin. Ela denuncia o marido Leandro (Seu Jorge) por agressão, mas é ignorada pela polícia.
Leia também: O filme que custou 800 milhões à Netflix, dominou o ranking por 4 anos — e a parte 2 finalmente vai sair do papel!
Quando percebe que ninguém vai protegê-la, toma uma decisão radical: coloca as crianças dentro da carroça de reciclagem e foge pelas ruas, tentando arrancá-las de um ambiente de violência doméstica.
Para não destruir a infância dos filhos de vez, disfarça a fuga como se fosse uma grande aventura, inventando histórias e jogos enquanto empurra, dia e noite, um carrinho que pesa centenas de quilos.
Esse contraste entre o que as crianças enxergam e o que o espectador sabe que está em jogo dá boa parte da força do filme.
A câmera acompanha o trio atravessando avenidas, ocupando praças, improvisando abrigo onde dá, e o roteiro insiste em manter o ponto de vista de Gal: uma mulher preta, exausta, apaixonada pelos filhos e constantemente empurrada para fora de qualquer noção básica de segurança.
Não há glamour na pobreza retratada aqui; há cansaço, engenho e um esforço diário para manter um mínimo de dignidade.
Shirley Cruz carrega o longa nas costas com uma atuação cheia de nuances. Em uma cena, ela está rindo com as crianças para sustentá-las emocionalmente; na seguinte, o rosto afunda em silêncio assim que eles viram de costas.
A atriz já vinha sendo bastante elogiada em festivais como Berlim, Guadalajara e Cine PE, onde o filme foi premiado em categorias como melhor roteiro, fotografia e atuação, e o lançamento comercial só reforçou essa percepção de “papel da vida”.
O elenco ao redor também faz diferença. Seu Jorge, como Leandro, foge da caricatura do “monstro unidimensional”: é violento e perigoso, mas também se revela encantador em certos momentos, o que torna mais crível a permanência de Gal ao lado dele por tanto tempo.
Katiuscia Canoro surge em registro bem distante do humor televisivo pelo qual ficou conhecida, e Luedji Luna aparece em um papel que expande sua presença para além da música, reforçando a conexão do filme com a cultura negra e periférica.
Como em Que Horas Ela Volta?, Muylaert volta a falar de maternidade e trabalho, mas aqui o recorte é ainda mais duro. Gal não é babá de uma família rica; é trabalhadora informal em situação de rua, atravessando uma cidade que a trata como invisível.
A direção aposta em cenas longas, muitas vezes na rua, com barulho de ônibus, motos e conversas ao fundo, reforçando a ideia de que a personagem está sempre em trânsito, sem espaço próprio.
A fotografia de Lílis Soares escolhe luzes e enquadramentos que nunca transformam a miséria em “imagem bonita de cartão-postal”; a rua é caótica e exaustiva, como quem circula por ela diariamente conhece bem.
Outra camada importante está no modo como o filme fala de violência doméstica. Não existe discurso longo explicando o problema; o que se vê é o resultado direto de um sistema que falha com Gal em todas as instâncias: na casa, na delegacia, no trabalho informal, na ausência de políticas públicas efetivas.
Quando a personagem decide fugir, o roteiro deixa claro que aquilo não é ato impulsivo, e sim a última saída de quem já tentou o caminho “oficial” e bateu em portas fechadas.
Esse conjunto de escolhas explica por que o filme ganhou tanta tração nas redes. Desde a estreia, pipocam relatos de espectadores — anônimos e famosos — comentando o impacto da história, muitos conectando a trama à própria experiência com mães solo, violência doméstica ou trabalho precarizado.
Críticos destacam o longa como um dos trabalhos mais fortes da diretora e um dos dramas brasileiros do ano que conseguem dialogar com um público amplo sem abrir mão de densidade.
Disponível na Netflix para o público brasileiro, A Melhor Mãe do Mundo se encaixa naquele grupo de filmes que estouram no streaming não só pelo algoritmo, mas pelo boca a boca digital: quem vê sai mexido, comenta, marca amigos e, em muitos casos, encerra o post com a mesma frase que aparece em várias resenhas por aí — “leve um lenço e se prepare para sair da sessão pensando muito sobre o que chamamos de ‘melhor mãe’ e sobre o país em que ela tenta sobreviver”.
Leia também: Essa história de amor da Netflix está emocionando o mundo — e vai lavar sua alma!
Compartilhe o post com seus amigos! 😉
Quem olha para Grimes só como “a ex de Elon Musk” perde de vista o…
À primeira vista, dá para achar que Black Rabbit é “só” mais um thriller criminal…
Tem filmes que já começam pequenos, num cenário quase silencioso, mas vão empilhando cenas até…
Quem caminha hoje por uma área tranquila de Berlim, entre prédios residenciais e um estacionamento…
Se você abriu o celular hoje e viu mensagens dizendo que “idosos agora têm direito…
No meio da movimentação pré-feriado de Ação de Graças em Washington, a região ao redor…