O fotógrafo
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na
pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a ‘Nuvem de calça’.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakowski – seu criador.
Fotografei a ‘Nuvem de calça’ e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
– Manoel de Barros, em “Ensaios fotográficos”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
Abaixo, quem declama o poema é Antonio Abujamra:
Que tal um thriller psicológico que promete mexer com os nervos e a mente? "Santuário",…
Em uma estreia recente que já está resonando com o público global, a Netflix colocou…
De fato, a última sexta-feira, ontem, foi um dia difícil para o grupo Molejo. No…
No coração do Leblon, uma das áreas mais valorizadas do Rio de Janeiro, uma situação…
Nesta matéria, mergulhamos em cinco séries que estão moldando as conversas culturais e cativando audiências…
Quando se trata de narrativas envolventes e performances impactantes, poucos filmes recentes capturam a essência…