“Pediram-me permissão para deixar morrer o meu pai”, relata diretor espanhol desportivo da Honda

O espanhol Oscar Haro, responsável da formação satélite da Honda no Mundial de MotoGP, onde alinham os pilotos Takaaki Nakagami e Cal Crutchlow, revelou que os médicos lhe pediram, em lágrimas, permissão para deixar morrer o pai por falta de ventiladores na Espanha.

Conforme publicado pelo site “A Bola”, em relato emocionado, o diretor desportivo da LCR Honda usou as redes sociais para revelar agora, três dias depois, a forma trágica como o seu pai morreu, vítima de Covid-19, e deixar um alerta a todos nós:


«Ninguém devia morrer sozinho. O meu pai começou a trabalhar aos 15 e só parou aos 65. Nunca pediu nada. Na quarta-feira, ele precisava de um ventilador para não morrer e eles negaram-no. O médico chamou-me, em lágrimas, para me pedir permissão para o deixar morrer. Esta é a Espanha que temos. Estamos a deixar morrer estas pessoas. A minha mãe está fechada em casa, sem que possa abraçá-la, beijá-la, consolá-la. Também acusou positivo e não quer ir ao hospital, porque tem medo que a deixem morrer», contou Haro, que decidiu partilhar a sua história em vídeo.

«Na segunda-feira, o meu pai e a minha mãe deram positivo ao coronavírus. Levei-os às urgências. Não voltei a ver o meu pai. A minha mãe pediu para receber alta porque queria cuidar do meu pai. Isolaram-no até morrer, na sexta-feira. Não entendo por que razão morreu. Não entendo como uma pessoa que trabalha desde os 15 anos, sempre a descontar para pagar impostos, morre porque não há ventiladores, porque não o podem continuar a tratar, pois há uma lei que diz que com mais de 75 anos já não interessa cuidar das pessoas e deixam-nas morrer.»

Sem conseguir esconder a sua revolta, o espanhol não se coíbe nas críticas e no alerta: «Dizem que temos um serviço de saúde incrível, mas não têm luvas, batas ou máscaras para usar. Não entendo como o meu pai, que está desde os 15 anos com a sua mulher, não se pôde despedir dela. Só sei que vejo dinheiro por todos os lados, como sempre, e que estamos a deixar morrer uma geração que fez este país sair da guerra, que trabalhava 16 horas por dia para alimentar os seus filhos e criar uma família. Famílias com quatro ou cinco filhos, como a minha que vivia num apartamento com 60 m2 e uma casa de banho, mas onde nunca faltou amor. Não como agora, que temos um ou dois filhos porque somos egoístas. Vejo o meu pai morto, a minha mãe fechada em casa e não posso pegar na minha filha porque tenho medo, pois ela só tem três semanas. Não entendo por que o meu pai não vai poder levar a neta a ver a sua horta. Dei a volta ao Mundo umas cem vezes, vivi em muitos países e garanto que temos o melhor país do Mundo. Mas vamos cuidar dele, por favor.»

Para finalizar, faz um apelo: “Não tenho ódio, meu pai me ensinou a viver sem ódio. Não quero encontrar culpados. Tenho amigos em todos os lugares. Vamos ajudar as pessoas mais velhas.” Se você tem um vizinho mais velho, bata na porta e pergunte o que ele precisa, se ele precisa de alguma coisa da farmácia porque a Espanha é um país incrível. Vamos ajudar um ao outro , porque a Espanha é o anfitrião. Não vamos perder tempo para ver quem é o culpado ” .

Abaixo, segue o vídeo no qual ele faz o relato:






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