Família

Despedir-se da mãe é sepultar um pouco da gente

Publicado originalmente por Ivonete Rosa em Psicologias do Brasil

As despedidas, no geral, nos maltratam. E o que dizer sobre despedir-se da mãe? Para mim, esse tema é tão desolador, que, ao me imaginar escrevendo sobre ele, as lágrimas brotaram imediatamente.

E olha que eu e minha mãe nos despedimos no natal de 2010. Um dia desses eu me dei conta de que há quase oito anos eu não pronuncio a palavra “mãe” referindo-me à minha, sabe?

Eu sinto tanta falta disso. Frases simples como “bênção, mãe” ou “mãe, a senhora viu fulano”? Então, isso não faz mais parte da minha vida.

Tanta coisa para ser dita a ela e tanta coisa que eu gostaria de ouvir dela. Bem, saio de mim e vou para o geral. Quando perdemos a nossa mãe, tanta coisa se agiganta dentro de nós. Fica um grito preso na garganta e uma louca vontade de voltar no tempo.

O arrependimento também vira uma visita constante e incômoda. Arrependemo-nos por não ter tido mais paciência em determinados momentos, puxa vida, não custava nada! Nós nos arrependemos de não ter demorado mais dentro do abraço dela, a cada vez que isso acontecia. E por que não dissemos com mais frequência e ênfase que ela estava linda dentro daquele vestido florido e acinturadinho?

Por que deixamos passar tantas oportunidades de acariciar aquele rostinho tão sofrido? Por que nunca dissemos que, apesar das marcas do tempo, ela era muito linda? Por que omitimos dela que tínhamos muito orgulho da guerreira que ela foi? Tantos “porquês”, tantos “e se”…tantos “ah, se eu tivesse”.

E assim vamos levando a vida sem o amor que era uma amostra do amor de Deus. E nos damos conta de que, aqui na terra, nenhum amor se assemelha ao dela.

Uma mãe não ama o filho porque ele é bom, bonito ou inteligente. Ela o ama porque, ao dar à luz ou ao adotá-lo esse amor lhe foi apresentado e pronto.

Não importa a idade que tenhamos ou o quão bem sucedido sejamos, quando nossa mãe vai embora, nos sentimos sem direção e com medo. Talvez medo de não conseguirmos caminhar sem aquele amor que era uma certeza para nós. Afinal, a certeza de sermos amados, ainda que por uma única pessoa, nos empodera e nos imuniza das mazelas desse mundo.

Perder um amor dessa magnitude nos torna desprotegidos e assustados. Sabe, carinho de mãe é sempre aveludado, por mais ásperas que sejam as suas mãos. O cheiro dela é sempre gostoso, mesmo que ela não use perfume…é cheiro de amor.

Sempre que viajo de avião, por entre as nuvens, eu fantasio que estou bem perto dos meus pais. Eu os imagino sentados num banquinho olhando para o horizonte e esperando por mim, em frente a uma casinha bem simples. Na cena, todos os cachorros e gatos que tivemos um dia estão presentes. Tem também um bule de café e biscoitos de polvilho. Eu chego e nos abraçamos por muito tempo.

Revista Pazes

Uma revista a todos aqueles que acreditam que a verdadeira paz é plural. Àqueles que desejam Pazes!

Recent Posts

Crush + sofá + Netflix: 5 comédias românticas natalinas pra criar clima hoje

Nem todo date precisa de bar lotado: às vezes, a melhor química aparece quando vocês…

7 horas ago

O algoritmo ajudou? Este filme disparou, bateu 29 milhões de views e virou líder na Netflix

Se você abriu a Netflix nos últimos dias e viu um “troll” te encarando na…

7 horas ago

Vimos antes da estreia: o filme mais aguardado de 2025 chega à Netflix e entrega muito mais do que promete

Tem suspense que te prende pela charada. E tem suspense que te pega pelo clima:…

7 horas ago

5 filmes recomendados por um psicanalista que vão explodir a sua mente

Tem filme que dá susto, tem filme que dá vontade de pausar pra respirar… e…

1 dia ago

Um passeio guiado sai do controle e deixa um casal preso em um cânion lutando para sobreviver neste filme nº 1 do streaming

Tem filme de sobrevivência que usa a natureza só como pano de fundo. O Cânion…

1 dia ago

O que acontece quando cientistas brincam de Deus? A resposta está neste suspense incrível da Netflix

Tem gente que entra em pânico quando o celular cai pra 1%. Oxygen pega essa…

1 dia ago