Hoje pela manhã aquietei-me para ouvir o silêncio. Muitos acham que para se ter silêncio, basta não ter gente falando ou música tocando… Mas ao tentar ouvir o silêncio, ouvi carros passando na rua, árvores balançando suas copas ao vento, porta batendo, avião ao longe, vizinhos gargalhando… O mundo é cheio de barulhos!

Quando gostamos dos barulhos, os chamamos de música. Se amamos uma pessoa que está falando com a gente, sua fala nos parece música. Mas se não gostamos da pessoa, cada sílaba pronunciada soa como uma batida estridente e incômoda.

Acredito que muito do que somos e sentimos, refletimos através dos sons que nos cercam. Se os sons a nossa volta forem bonitos, ficaremos bonitos por dentro. Mas se dentro da gente só houver feiúra, nem as mais belas melodias nos agradarão.

Nós somos músicas que dançam na vida. Músicas que saem da nossa alma para o mundo ouvir e músicas do mundo que nos entram alma adentro. Acho que podemos interpretar a vida como uma imensa orquestra musical, cujo regente somos nós mesmos.

Rubem Alves certa vez disse: “Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.”

Concordo com ele. Se somos regentes, não precisamos tocar uma sonata só. Nossa vida pode ser interpretada como várias minissonatas, cada uma regida de acordo com a fase que estamos passando, nosso tempo, nosso estado de espírito. Na minha opinião, o que importa é reger tendo o coração como nosso grande mestre. Não importa se estamos tendo tempos difíceis… As mais belas sinfonias foram compostas em situações amargas também. Se a sinfonia estiver muito pesada, sempre podemos invocar os oboés e clarinetas…

Podemos sim fazer beleza diante da dureza da vida. Porque nós merecemos a beleza e o prazer de viver a despeito de qualquer gosto amargo. Se somos nossos próprios regentes, tudo está (literalmente) nas nossas mãos.
Pois não é só o mundo que nos acolhe. Nós acolhemos o mundo dentro de nós, cada um da sua forma. O mundo que acolhemos dentro de nós é o que alimenta a nossa alma…

Componha e faça a regência das melhores sonatas que conseguir. Esforce-se para ser feliz!

Raquel Alves

Arquiteta por formação, hoje dedica-se integralmente a presidir o Instituto Rubem Alves, criado para manter vivo o pensamento de seu pai, difundir a sua obra e capacitar novos mestres.

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