Mia Couto

“O bairro da minha infância” – poema de Mia Couto

Não são as criaturas que morrem.
É o inverso:
só morrem as coisas.

As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.

E quem de si nasce
à eternidade se condena.

Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.

A casa morreu
no lugar onde nasci:
a minha infância
não tem mais onde dormir.

Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.

Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.

Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.

A morte
é o impossível abraço da água.

© MIA COUTO
In Tradutor de chuvas, 2011

Revista Pazes

Uma revista a todos aqueles que acreditam que a verdadeira paz é plural. Àqueles que desejam Pazes!

Recent Posts

Atriz de Como Treinar o Seu Dragão revela nova amputação e desabafa pela 1ª vez sobre o que viveu após lançamento do filme

Ruth Codd virou um rosto conhecido primeiro entre fãs de terror da Netflix e, mais…

1 dia ago

Acaba de entrar na Netflix: filme de ação com Mel Gibson que está deixando todo mundo vidrado

De vez em quando, a Netflix resgata um título que, fora do streaming, passou quase…

1 dia ago

Lembra dele? O ator que foi cancelado por Hollywood e decidiu trocar a indústria por um propósito espiritual

Antes de virar “queridinho” de sites cristãos e alvo de críticas em colunas progressistas, Kirk…

2 dias ago

Nova minissérie de 8 episódios com Jude Law viraliza na Netflix e deixa gigantes para trás no top global!

À primeira vista, dá para achar que Black Rabbit é “só” mais um thriller criminal…

4 dias ago