Não se cale.

O que eu poderia te dizer agora? Pra você seguir em frente, mesmo com medo? Pra não se importar tanto com as opiniões dos outros? Pra arriscar um pouco mais? Pra sorrir um pouco mais? Pra se permitir um pouco mais na vida, sem tantos pesos e tantos julgamentos? O que eu poderia te dizer agora, me diga? Pra você pegar mais leve com você? Pra você fazer a sua parte? Pra confiar que tudo vai dar certo no final? Pra seguir o seu coração? Lutar pelos seus sonhos? Chutar o balde? Persistir? Desistir? Reavaliar os rumos da própria vida? Dançar conforme a música? Inventar a sua própria coreografia? Desafiar o impossível? Desacreditar no impossível? Perdoar? Perdoar-se? Ser mais grato? Ser mais generoso? Ser mais caridoso? O quê? O que eu poderia te dizer agora que você ainda não sabe?

Está tudo aí dentro, consegue perceber? Eu não sou a voz. Você é a voz. Eu não sou a resposta. Você é a resposta. Nada do que eu te diga pode te ajudar a não ser que você queira ser ajudado. A não ser que você se ajude primeiro. A não ser que você entenda que absolutamente tudo o que envolve essa tarefa às vezes difícil e complicada de estar vivo depende da sua capacidade interna, da forma como você escolhe se comportar diante dos acontecimentos, da forma como você escolhe olhar para o mundo ao seu redor. E para o lado de dentro também. Se a vida tem a ver com aprender a ler aquilo que ainda não está escrito, com quais olhos você quer enxerga-la? Do que é feito o seu mundo?

Eu posso te dizer um milhão de coisas agora e as pessoas podem te dizer um milhão de coisas agora, mas a sua realidade quem constrói é você. Você, não a mente que mente. Você, não a opinião do Fulano. Você, não o que quer que tenha te acontecido no passado. Você, não aquele livro tal. Ou aquele guru tal. Ou aquele curso tal. Ou todas aquelas coisas que quase nunca te preenchem de verdade, porque estão todas lá fora, quando a gente sabe que a base de tudo o que realmente vale a pena no mundo é construída do lado de dentro.

Temos uma compulsão irresistível de procurar culpados para tudo o que nos acontece na vida, já reparou? Como se, ao apontarmos o erro do outro ou nos eximirmos das nossas próprias responsabilidades, pudéssemos justificar os nossos próprios erros e nos sentir em paz. Ledo engano. O outro é o meu espelho. O jogo é interno. O que significa que o que tanto aponto em você é o que mais preciso trabalhar em mim.

Tudo o que enxergamos no mundo é uma responsabilidade nossa. Fruto da nossa escolha. Da nossa visão expansiva ou limitada de todas as coisas. Do nosso pensamento alinhado ao fracasso, à escassez e ao medo ou ao amor, à abundância e à gratidão. A ofensa, a calúnia, a crítica e o julgamento nada têm a ver com você, entende? A não ser que você se sinta ofendido, o julgamento é um problema do outro, não seu. Mas, se você se ofende com a ofensa, quem poderá culpar quem quer que seja?

Escolha. Tudo é uma questão de escolha. E, a partir do momento em que você entende isso, você se liberta. Não da dor, porque você vai sentir dor muitas vezes ainda, mas do sofrimento – porque o sofrimento vem da negação de uma realidade que a gente mesmo construiu.

Quando você entende isso, você aceita, confia, entrega e agradece, não de um jeito apático, como se nada pudesse ser questionado, mas de um jeito sábio que tem muito mais a ver com empoderar-se diante da vida do que com qualquer outra coisa.

Empoderar-se é assumir-se responsável pelo próprio caminho, com todas as dores e delícias e descobertas inerentes a ele. Empoderar-se é se permitir errar de vez em quando também, porque só se empodera quem se assume humano, falho, vulnerável e cheio de medos e inseguranças pra lidar.

Tudo posso te dizer nesse momento, mas nada te fará sentir – e, por isso mesmo, fazer sentido – se você não estiver disposto a se escutar primeiro, a se enxergar primeiro, a se ajudar primeiro.

Você vai cair muitas vezes ainda, sim. Pode ser que tenha que catar os caquinhos de vez em quando, refazer-se, reconstruir-se, juntar o que restou das suas esperanças e sonhos e seguir em frente. Pode ser que te digam um monte de coisas bonitas e que, em algum momento da sua vida, você já não acredite mais em nenhuma delas. Ou pode ser que a crueza de alguns momentos te revele belezas que você jamais pensou ser possível enxergar. Pode ser, ainda, que, vez em quando, te dê uma vontade grande de desistir de tudo. Ou de retomar todos aqueles sonhos adormecidos em algum lugar escondido bem dentro de você. Pode ser que te falte coragem. Que te falte chão. Que te falte clareza. Ou que, em algum momento, você consiga perceber que tudo isso já existe em abundância no seu mundo interior. E que é possível gerar ainda mais. E fazer ainda mais. E ser ainda mais. Todos os dias um pouquinho.

Pode ser tanta coisa. E eu poderia te dizer tanta coisa. Mas, agora, tudo se resume a isto mesmo: você.

Não importa o que tenha acontecido. Não importa o que está acontecendo. Não importa o que aconteça. Não importa o que tenham te dito, não importa o que tenham calado, não importa o tamanho do problema, a crueza da ofensa, o peso da crítica, do tempo, da escolha. Você é voz. Não se cale.

Não desista de você.






Uma revista a todos aqueles que acreditam que a verdadeira paz é plural. Àqueles que desejam Pazes!