Filme “O segredo dos seus olhos”: E a tridimensionalidade da profundidade humana

O segredo dos seus olhos é uma narrativa que te transporta para a tela, e sem precisar dos recursos tecnológicos de 3D. Ainda que se trate de um filme de 2009, eu não assisti um a altura da profundidade com que consegue tratar tantos temas da humanidade. Afinal, um filme que consegue abordar drama, romance, suspense, ação pode ser considerado no mínimo genial e admirável. Caso eu pudesse resumir em uma frase esse filme, seria: exitem filmes que não cabem muitas explicações, apenas assistir: Esse é um. Mas como sou fascinada por ele, fiz este texto.

Minha proposta é trazer essa originalidade do filme, ou seja, e tentar transportá-los para o mesmo. Para aquele que viram relembrarem e aqueles que não, desejarem vê-lo. Primeiro bom dizer que trata-se de um filme argentino, que foi ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2010, e dirigido com maestria por Juan José Campanella. Composto por um elenco de autores também merecedores da premiação.

A história envolve passado e presente: os anos de 1999 e 1974 (período muito conturbado e de violência). Benjamin Espósito (interpretado pelo brilhante ator Ricardo Darín), que havia se aposentado do cargo de oficial de justiça de um tribunal penal, por isso passa a ter bastante tempo livre, e se dedica a escrever um livro. O mesmo tem como tema um crime ocorrido em 1974, mas que nunca lhe saiu da cabeça, pois foi um crime hediondo, um violento caso de estupro e homicídio de uma jovem mulher, que havia se casado no início do ano de 1974 com o bancário Ricardo Morales (Pablo Rago). Eram, assim um casal apaixonado e feliz, interrompidos brutalmente pelo crime sob investigação. Para isso ele vai ao Tribunal pedir opiniões de uma velha amiga, Irene Menéndez, interpretada por Soledad Villamil, que já está casada e com filhos. E já que o filme trata de segredo de olhares, logo percebemos entres os olhares de ambos, e possivelmente uma paixão, que detalho melhor daqui a pouco.

Ricardo pergunta para Benjamin qual seria a pena do assassino? Em resposta, ele explica que a pena para violação seguida de morte era prisão perpétua, pois na Argentina não havia pena de morte.Mas Ricardo diz era contra a pena de morte, pois seria uma morte rápida e pouco dolorida, e isso não traria justiça ao sofrimento de sua mulher.

Após essa cena, Benjamin observa o álbum de foto do casal. Nesse meio tempo, ele percebe que há um homem que estava sempre com os olhos direcionados para a vítima. Através do olhar, ou seja, da maneira como ele encarava a vítima – descrito por ele como um “olhar de adoração” – Benjamim descobriu que (…segredo para os que não assistiram), seria o possível responsável pelo assassinato? O segredo do olhar, que pode revelar aquilo que as imagens ou as palavras tentam esconder. Como ele novamente refere, “Os olhos falam”. Neste momento: Quem é o assassino? Onde ele está? E o que acontecerá com ele? Nessa altura o que o telespectador deseja que aconteça? Há justiça? E a trama de grande tensão do filme se desenvolve neste sentido.

Agora sobre a paixão entre Benjamin e Irene, vivida de maneira platônica, nos diálogos, cenas e olhares entre ambos é de uma interpretação de incrível sensibilidade e talento dos atores. Cabe a Benjamin decidir o próprio destino! Será ele capaz de criar coragem para viver a sua própria paixão — a paixão por Irene? A paixão que ele não pode mudar mesmo após 25 anos de espera. É possível trocar de paixão? O filme vai além…e fala do vazio da vida sem alguma paixão. São realmente cenas tocantes! Que ainda fico pensando e me pergunto, retomando o que já disse, cadê o Oscar para eles? Mas como o filme aponta em um dos vários momentos de profunda reflexão na narrativa: “Pare de pensar, senão você fica com vários passados e nenhum futuro…”

Além disso, é preciso falar sobre a direção fotográfica incrível do filme, feita por Felix Monti (argentino, mas nascido no Brasil) que também nos faz entrar no filme, sentir aquele espaço e participar da trama. Realizou, dito por muitos críticos, uma das cenas mais memoráveis do cinema, com um plano-sequência (filmagem de uma cena continua sem cortes) de uma duração longa em que acompanhamos um estádio de futebol (outra paixão bem colocada no enredo!). Estádio lotado segue até a arquibancada encontrando os protagonistas e sequenciando para com uma perseguição ao suspeito!

Juan José Campanella, e todo elenco do filme, nos presenteia com um mosaico de sentimentos que tornam a o segredo de seus olhos indiscutivelmente tridimensional, o espectador se sente no filme. Ao ver a emoção nos olhos dos personagens nos transportamos para dentro da tela.
Quanto a cenas finais, bom, apenas digo isso: ainda é muito vivida na minha memória, de me arrepiar ao relembrar, como se tivesse visto ontem…e mesmo diante das últimas cenas, em relação ao que aconteceu com o assassino, garanto, você ainda será surpreendido nesta trama que consegue compor segredos que hipnotiza os olhos de quem vê, e realmente sente as emoções da cena!
Como eu disse, o filme que não cabe muitas explicações, mas tentei trazê-las para que possam apreciar uma das “obras primas” do cinema….sem mais, apenas assistam! Ou revejam!






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